41ª Ovibeja debruça-se sobre o futuro com o caráter reivindicativo de sempre
14/04/2025

A inovação e as novas tecnologias associadas à Inteligência Artificial são uma das bandeiras da edição deste ano da Ovibeja. O futuro, que é já hoje, vai apresentar-se e discutir-se na grande feira do sul a decorrer em Beja de 30 de abril a 4 de maio. A produção agrícola e o seu papel para a proteção e salvaguarda da sustentabilidade, as políticas públicas para o setor e para a região são algumas das matérias que irão merecer foco no decorrer do evento conforme declarações de Rui Garrido, Presidente da ACOS – Associação de Agricultores do Sul, a entidade organizadora da Ovibeja. + AGRICULTURA + FUTURO é o tema principal desta edição que vai estar refletido nos muitos espaços temáticos do certame e na exposição principal.
Com a feira cheia de expositores, muitos dos quais novos, e com várias novidades na programação deste ano, Rui Garrido está convicto que a Ovibeja vai ser palco privilegiado para as visitas de todos os políticos, tanto do governo, como dos diversos partidos com acento parlamentar, o que encara como oportunidade para dar a conhecer as potencialidades e as fragilidades do setor agrícola e da região. No que diz respeito à agricultura reclama medidas de rejuvenescimento da classe através da criação de condições na região que favoreçam a instalação e a permanência dos jovens no setor. Mas faz também referência à bondade da Estratégia “Água que Une”. Reclama o aumento da quota para a agricultura e a possibilidade de pequenos regadios de apoio à pecuária extensiva e defende que, seja qual for o governo que venha a ser eleito, “pegue neste trabalho como importante para o país, e o tente melhorar. (…) Falo em vontade política e na capacidade de acreditar que aquelas propostas de projeto contempladas na Estratégia são interessantes para o país”. Rui Garrido fala ainda da importância do Protocolo de Cooperação para a Migração Laboral Regulada e, entre outros temas da atualidade, encara com apreensão as possíveis consequências das taxas alfandegárias salientadas pela Administração dos EUA, assim como da nova ordem mundial.
A 41ª Ovibeja vai acontecer de 30 de abril a 4 de maio. Quais as expectativas da organização para esta edição?
As expectativas são muito altas, por várias razões. Este ano começámos a perceber, desde muito cedo, um grande interesse manifestado por potenciais expositores para participarem na feira, muitos deles a contactarem-nos pela primeira vez.
A feira está cheia, com os pavilhões esgotadíssimos. De realçar também que temos novos patrocinadores que se juntam aos já habituais, o que também é importante para manter a viabilidade económica do evento. O Pavilhão da Pecuária, sempre muito apreciado pelos visitantes, vai estar cheio. Em redor das curraletas dos animais vão estar os stands das associações representadas e empresas de produtos e serviços.
O Pavilhão Terra Fértil onde costumam estar os vinhos, os enchidos, os queijos e muitos outros produtos agroalimentares também está completo. Este Pavilhão alberga também, como é habitual, o Auditório ACOS para colóquios e seminários que vão acontecer todos os dias. Este ano tivemos o cuidado de agendarmos, em horários diferentes, os colóquios referentes ao regadio e ao sequeiro. O propósito é que todos os interessados que queiram participar em cada um deles o possam fazer, sem que haja sobreposição de horários. Este pavilhão integra ainda a exposição do tema principal da feira: “+ AGRICULTURA + FUTURO”. E tem ainda o espaço dedicado ao 14º Concurso internacional de Azeite, com mostra e provas de azeites apresentados a concurso. Este pavilhão alberga ainda o espaço PEPAC.
Vão preencher os dias todos com colóquios?
Sim, vamos ter vários colóquios muito importantes, a começar, desde logo, pelo nosso sobre + AGRICULTURA + FUTURO. Todos eles integram a componente da inovação e das novas tecnologias. Uma das abordagens que vamos salientar, e que se integra nesta temática, é a questão da renovação geracional, com a maior adesão de jovens agricultores. Como é do conhecimento geral, a classe está cada vez mais envelhecida. É imperativo fazer um grande esforço de rejuvenescimento, com a vinda de jovens com condições que lhes permitam manterem-se ativos na profissão e na região. Para tal são necessárias não só boas condições para a atividade económica, mas também de educação, de saúde, de acesso à Internet, socioculturais, etc. Em resumo, é fundamental que sejam criadas condições para que os jovens fiquem na região e invistam no setor agrícola. Entre os debates sobre esta matéria, um deles é realizado pela Associação dos Jovens Agricultores de Portugal que vai refletir sobre o Jovem Empresário Rural.
Naquela que é a grande temática da 41ª Ovibeja vamos ter possibilidades muito interessantes de refletir sobre a necessidade de aumentar a produção para alimentar mais pessoas no futuro, fazendo-o de uma forma cada vez mais sustentada, não só a nível económico, como ambiental. Isto exige um grande esforço, o uso de novas tecnologias, novos equipamentos, maior interligação com a ciência. É muito importante que a academia e os seus investigadores trabalhem em conjunto com os agricultores.
A grande variedade e atualidade dos colóquios é também, na nossa opinião, um pretexto para a vinda de visitantes interessados nesta reflexão e debate. Pretendemos que venham visitar a feira e também assistir aos colóquios.
A Ovibeja é conhecida pela sua capacidade de inovação. Quais as novidades deste ano?
Entre várias outras, vamos ter como novidade, no Pavilhão do Cante, (que este ano também ai ter a designação de Pavilhão da Caça), uma exposição e muitas iniciativas da responsabilidade da Confederação Alentejana de Caçadores e do Clube Português de Monteiros que vão desde a gastronomia de caça, demonstrações de cães, desfiles de matilheiros, apresentações de livros. Estas iniciativas em torno da atividade da caça são muito importantes para o desenvolvimento do nosso interior alentejano. Um espaço que também vai ter novas dinâmicas é o Pavilhão de Inovação e Tecnologia, no Campo da Feira com exposição e demonstrações de maquinaria e equipamentos agrícolas. Este novo conceito resultou de várias reuniões com as empresas distribuidoras de máquinas, tratores e outros equipamentos agrícolas, na sequência das quais decidimos em conjunto acrescentar uma série de iniciativas. Entre elas conta-se a instalação de um restaurante dentro deste espaço, o Solar da Campaniça. A ideia é promover a carne de borrego da raça autóctone, criado em extensivo. Vamos ter os dias todos preenchidos com iniciativas dedicadas às novas tecnologias neste Pavilhão, com demonstrações de drones, de pulverizadores, moto 4 entre muitos outros equipamentos agrícolas. Entre as iniciativas a decorrer neste espaço, que integra vários centros de competências, vamos igualmente contar com colóquios sobre a temática. Vamos também deslocar uma bilheteira para a entrada do Campo da Feira e disponibilizar em local visível toda a programação do espaço com os respetivos dias e horários. Este ano acrescentámos ali também uma Horta Pedagógica dirigida às crianças com a presença de vários animais, hortícolas e outros atrativos para os mais novos. Esta horta pedagógica alia-se ao Espaço Aprender + que já realizamos há vários anos no Pavilhão Central Comércio e Serviços e que este ano conta também com uma recheada programação lúdico-pedagógica durante todos os dias.
Na configuração geral da feira vamos também renovar a programação do palco Filhos da Terra para concertos ao fim da tarde com músicos da região. A música e o lazer podem ser acompanhados por petiscos proporcionados por um conjunto de bares nas redondezas. Este espaço está localizado no mesmo local do ano passado, nas proximidades da zona de restauração.
Estas são algumas das muitas novidades que apresentamos este ano, a exemplo do que é a marca da Ovibeja enquanto evento de arrojo e de inovação. Esperamos, como sempre, a vinda de vários milhares de visitantes. Os políticos, e membros do governo ainda em funções, também deverão vir todos, como habitualmente, à Ovibeja. Como estamos em ano de eleições os políticos têm razões acrescidas para virem à nossa feira. Com a campanha a começar no domingo, dia 4, aguardamos a visita de todos.
A Organização já tem muitas confirmações de presença de políticos e membros do governo?
O senhor Presidente da República já confirmou a sua vinda à Ovibeja. O Senhor Primeiro-Ministro também já aceitou o nosso convite. Já temos também a confirmação do Ministro da Agricultura para o encerramento do nosso colóquio do dia 2 de maio, sobre o tema principal da feira. O Secretário de Estado da Agricultura irá encerrar a sessão dedicada ao azeite e ao olival, na manhã do dia 3 de maio. A Ministra do Ambiente e Energia também virá à feira, no dia em que vier o Primeiro-Ministro.
Em clima eleitoral e com a vinda esperada dos responsáveis dos diferentes partidos políticos, como pode a Ovibeja ser palco de reivindicação de questões importantes para a agricultura da região?
A nossa feira continuará a manter o seu carácter reivindicativo que a tem caracterizado ao longo dos anos. Queremos apresentar a todos – incluindo ao governo demissionário – aquilo que são as nossas preocupações. Vamos apresentar, por exemplo, sugestões e preocupações referentes à gestão da água, com sugestões sobre a Estratégia Água que Une e sobre a importância da sua concretização. Vamos continuar a reivindicar o aumento da quota da água para a agricultura, à qual este governo já tinha dado o seu acordo. A quota da água de Alqueva neste momento disponível para a agricultura já não vai chegar tendo em conta o que é previsível sair para as outras bacias e o aumento da área regada. Segundo o que nos foi transmitido está prevista uma renegociação com a EDP e, por outro lado, meter mais água dentro do sistema conforme também está previsto na Estratégia Água que Une, através do alteamento das barragens do Pedrógão e, eventualmente, de Alvito.
É ainda nossa reivindicação a questão dos precários, dos pequenos regadios de apoio ao sequeiro. Outro assunto da ordem do dia é o das condições de trabalho de migrantes. E também a questão das candidaturas ao investimento que temos vindo a falar com o atual ministro da agricultura e com o Presidente da DGADR, a autoridade do PEPAC. Neste momento estão abertas candidaturas até final do ano para Jovens Agricultores. Está tudo certo. O que reivindicamos é que sejam também contempladas candidaturas para todos os outros agricultores que precisam de investir. Onde estão candidaturas para este segmento? É importante que sejam abertos concursos de investimento para todos os segmentos que incluam os agricultores que já não são jovens e que precisam de fazer os seus investimentos.
Aproveitaremos a vinda dos políticos para reivindicar os assuntos que afetam a agricultura da nossa região e que são também, muitos deles, transversais a todo o país, como é o caso da pecuária extensiva. É preciso que os responsáveis de todos os partidos políticos saibam qual é a nossa realidade, as nossas preocupações e reivindicações.
Foi recentemente assinado o Protocolo de Cooperação para a Migração Laboral Regulada que intervém na gestão da entrada de migrantes para o trabalho agrícola. O que representa esta medida para a regulação da relação laboral e social dos migrantes?
Esta medida pode facilitar muito, de ambos os lados, a relação de empregabilidade.
O que tem vindo a acontecer até aqui, salvo raras exceções, é nós, as empresas agrícolas (à semelhança do que se passa com todas as outras dos diferentes setores que empregam mão-de-obra migrante), recorrermos a empresas de recursos humanos dedicadas a efetuar contratos com trabalhadores de outros países que vêm trabalhar em Portugal. Hoje em dia provenientes muito mais da Ásia e de África do que dantes, que era fundamentalmente da Europa de Leste. Essas empresas de recrutamento contratam os trabalhadores e depois nós contratamos com essas empresas para arranjar pessoal para os trabalhos agrícolas.
Com este protocolo tudo isso vai mudar. Vem facilitar que nós, empresas, tenhamos acesso direto, com condições bem definidas, às equipas a contratar. Entre as condições salvaguardadas no protocolo salienta-se a vinda de migrantes com contrato de trabalho, com alojamento garantido, com garantia de acesso aos serviços de saúde, ou seja, que venham de uma forma digna e que salvaguarde a segurança tanto de quem emprega, como dos trabalhadores contatados. Esta medida tem implícita uma filosofia diferente, com o objetivo de facilitar a contratação direta por parte das empresas.
Eu ainda não visitei, mas há membros da Direção e técnicos da ACOS que já visitaram um exemplo de boas práticas na zona de Cartaya, na Província de Huelva, em Espanha. Trata-se de uma parceria específica entre o município, as empresas espanholas e as empresas de Marrocos. Foram construídos e definidos locais onde as pessoas podem ser alojadas. As empresas contratam diretamente de acordo com regras bem definidas. Do lado de Marrocos existem também empresas que fazem a prospeção e encaminham a mão-de-obra de acordo com as regras e as especificações definidas. Neste modelo, muitas das vezes, os trabalhadores são os mesmos que regressam sempre que começa novo ciclo de trabalho. Este trabalho já testado com êxito em Espanha e o protocolo assinado agora em Portugal evitam os intermediários que faz com que o trabalhador tenha dois patrões e, muitas vezes vinculados a relações contratuais pouco claras.
“Água que Une” é uma estratégia nacional apresentada pelo governo como garante de sustentabilidade e segurança na gestão da água em Portugal. Tendo em conta o cenário de novas eleições legislativas, o que se pode esperar sobre a execução do mesmo?
Em primeiro lugar, e como tivemos oportunidade de referir ao Ministro da Agricultura na data da apresentação da estratégia nas instalações da ACOS, congratulamo-nos com o trabalho realizado em prol desta estratégia. É um trabalho muito importante, com uma filosofia de gestão conjunta da água de norte a sul de Portugal. É importante que, o governo que vier a seguir, independentemente de quem seja, pegue neste trabalho como importante para o país, e o tente melhorar. Nós já apresentámos algumas críticas construtivas. Venha quem vier a governar o nosso país, deverá ter a preocupação de interiorizar o que esta estratégia contempla de importante. Falo em vontade política e na capacidade de acreditar que aquelas propostas de projeto contempladas na estratégia são interessantes para o país. Porque se não acreditarem muitas daquelas medidas nunca serão implementadas.
No que diz respeito a melhorias e, tendo em conta a nossa região, há coisas que esperamos mesmo que venham a acontecer. Está inscrita a construção de duas barragens no Baixo Alentejo. Uma na Ribeira de Terjes e Cobres, e outra na Ribeira de Carreiras, ambas no concelho de Mértola. Será importante que estas barragens incluam a possibilidade da constituição de pequenos regadios de apoio à pecuária extensiva. Esta é uma reivindicação suscitada há algum tempo por nós ACOS e pela Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo de que não abdicaremos. Lançámos este desafio há mais de dois anos, quando vivemos anos de secas seguidos, e fomos confrontados com falta de água nas nossas explorações tanto para as culturas, como até para abeberamento dos efetivos pecuários. Estamos a verificar que esta ideia dos pequenos regadios às explorações está a ganhar cada vez mais força, havendo cada vez mais pessoas a acreditar nela, mas esta possibilidade não está devidamente expressa na Estratégia “Água que Une”. Há que lutar por ela, pois é nossa opinião que é fundamental para a região, para a manutenção da atividade económica no interior, e para o país.
Reclamam que se acrescente na estratégia a salvaguarda da água necessária para a região?
Fala-se que essa água pode servir para o que foi definido no acordo feito com Espanha, de regularização do caudal ecológico do Guadiana. Sabemos que isso implica mais saída de água de Alqueva, e o mesmo se passa com a saída de água para o Algarve a partir do Pomarão. Tal como implicará mais saída de água o reforço à barragem de Santa Clara. Não nos opomos a nada disso. Mas é preciso salvaguardar também a entrada de água no grande lago de Alqueva. A estratégia contempla, e bem, que se pretende fazer uma interligação do rio Tejo ao rio Guadiana, a partir de Nisa, pela barragem do Caia. Se assim for, se uma parte da água do Tejo for canalizada para Alqueva, podemos concretizar todos os projetos fundamentais para o nosso Alentejo.
No entanto, é preciso ter presente que o estudo previsto para interligar o Tejo ao Guadiana vai ter muitas vozes contra. Têm de ser equacionadas medidas de mitigação de impactos negativos a nível ambiental, etc. Portanto, isto vai levar tempo. Como tal, a sua concretização não pode começar, como está previsto, em 2036. Tem de começar muito mais cedo. Não podemos pensar em fazer sair toda a água prevista a partir de Alqueva sem assegurar a entrada a partir do Tejo.
É, por isso, importante que os políticos acreditem nesta estratégia nacional, que arranjem financiamento, de modo a que este seja encarado como um projeto nacional com uma gestão diferente do recurso escasso que é a água.
Tendo em conta declarações e decisões já tomadas pelo Presidente dos Estados Unidos da América referentes a tarifas sobre importações, designadamente sobre o vinho e o azeite, de que modo poderemos salvaguardar a nossa agricultura e a nossa economia em relação a essas imposições dos EUA?
Na nossa região as tarifas vão afetar diretamente os setores do vinho e do azeite.
Estamos a encarar esta situação com uma expectativa grande, a ver o que é que isto dá, como se costuma dizer. Já percebemos que o senhor diz umas coisas num dia e no outro dia já diz outras. Perante isso, ficamos sem saber muito bem com o que contar. Ao que sei, a Europa só irá responder depois de confirmar, de forma muito concreta, quais são os factos que estão em cima da mesa.
Não deixa de ser, no entanto, uma preocupação para nós europeus e alentejanos, nomeadamente, no que diz respeito ao azeite e ao vinho. Atualmente estamos a exportar muito vinho para os EUA, e também muito azeite. Preocupa-nos se amanhã deixarmos de ter esses mercados. Se esses produtos forem altamente taxados temos de procurar novos mercados. E isso não se faz de um dia para o outro.
Esta é uma questão que pode redefinir a relação de produção/exportação de produtos agrícolas?
Se se confirmar a aplicação de altas taxas alfandegárias e a consequente redução drástica dos nossos produtos para os EUA teremos de procurar alternativas. Vai exigir um trabalho articulado porque a forte influência que os EUA têm no mundo, faz com que as decisões deste presidente levem a Europa a precaver-se. Esta questão levanta preocupações quanto ao seu desenrolar. E não é só na questão da agricultura. Tudo está interligado, com consequências de efeito dominó. Por exemplo, o maior investimento na defesa vai obrigar a desvio de verbas para o armamento, que podem ser prioritárias em outras áreas. Há aqui uma nova ordem mundial que nos obriga a uma maior vigilância e a procurar novas soluções. A Europa precisa de estar unida para melhor enfrentar os novos desafios que se impõem. É preciso haver consenso, que todos consigamos trabalhar no mesmo sentido.
Gabinete de Imprensa da 41ª Ovibeja
14/04/2025